Com queda de 8% no número anual de queimadas, Brasil pode registrar uma baixa maior em dezembro devido às chuvas
O clima seco e muito quente foi o grande causador de queimadas expressivas no Brasil durante o segundo semestre de 2023. O El Niño continua presente, mas as chuvas podem retornar em dezembro e diminuir os incêndios.
O Brasil é o líder no ranking de queimadas monitoradas na América do Sul com um total de 176.317 focos registrados desde o começo do ano até agora. Em segundo lugar vem à Bolívia com 40.625, ou seja, com apenas ¼ do total brasileiro. Dados do satélite de referência AQUA do INPE, colocam a Argentina em terceiro lugar no ranking com 25.722 focos de incêndios registrados neste ano de 2023.
No país brasileiro houve uma queda de 8% comparado ao mesmo período do ano passado, mas ainda é algo insuficiente e que deixou muitos prejuízos por onde passou. Falando de biomas, o pantanal registrou um aumento de 343% comparado a 2022. O número explodiu de 1.362 para 6.034, e um dos grandes causadores foi o fenômeno El Niño que ganhou intensidade nos últimos meses, gerando seca extrema e calor excessivo, um combustível infalível para os incêndios.
A Amazônia continua sendo destruída pelos incêndios, mas apesar de somar cerca de 92.696 focos registrados até o momento, a baixa foi de 17% comparado ao ano anterior. O estado do Amazonas, por exemplo, é um dos que mais registrou fogo neste ano com 19.428, ocupando assim, o terceiro lugar no ranking dos estados brasileiros. Em primeiro vem o Pará com 38.486 e depois Mato Grosso com 20.390.
Número de queimadas cai, mas situação continua grave
A região Norte vem sofrendo fortes impactos de um El Niño que gerou seca e calor excessivo nesse segundo semestre de 2023, de modo geral, é a região com o maior número de queimadas registradas em 2023 com um total de 87.795 desde primeiro de janeiro até 27 de novembro. Segundo o INPE, a região tem um total de queimadas 58% maior que o Nordeste que ocupa a segunda posição com cerca de 50 mil focos registrados em 2023.
Apesar do grande número de queimadas registradas no Amazonas nos últimos meses, as chuvas voltaram a cair, gerando assim, um aumento da água no solo e na vegetação, dificultando um pouco mais a ocorrência das queimadas naturais. Aliás, a queda foi muito expressiva.
Em agosto de 2023 foram 5.474 focos, em setembro subiu para 6.991, o maior número registrado durante um mês nesse ano. Em outubro já caiu para 3.858 e nesse mês de novembro, foram registrados apenas 768 focos no Amazonas, o que mostra que as chuvas são fundamentais no combate.
Mudança no padrão de chuvas X queimadas
A primavera tem sido marcada por chuvas irregulares e abaixo da média climatológica em grande parte do Brasil, com exceção do Sul que sofre o excesso de umidade gerado pelo forte fenômeno El Niño. Apesar das irregularidades e das intensas ondas de calor, o número total de queimadas registradas no Brasil caiu de setembro para cá. Saiu de 46.498 para 24.730, algo que apesar de positivo em número, não deixou de ser trágico na prática.
A boa notícia é que o padrão de chuvas pode mudar a partir de dezembro no Brasil, algo que será fundamental no combate às queimadas. Com chuvas mais frequentes e até mesmo mais expressivas em volume, o índice de água disponível no solo e a umidade presente na vegetação serão maiores, então apesar da chegada do verão com temperaturas ainda acima da média, uma baixa no número de focos de incêndio pode ser registrada a partir do próximo mês, mas será que isso tem a ver com a intensidade do El Niño?
Mesmo com o fenômeno ainda forte nesse final de primavera e começo do verão, simulações climáticas apostam em uma mudança no padrão de chuvas das próximas semanas e até meses. Falando do trimestre dezembro-janeiro-fevereiro, existe uma tendência de chuvas ainda acima da média em partes da região Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, mas da mesma forma, existe uma tendência de chuvas acima da climatologia na região Norte, em especial nos estados de Rondônia, Acre e Amazonas.
A boa notícia é que logo no comecinho de dezembro, o padrão de chuvas vai começar a mudar no Brasil com o avanço de instabilidades pelo centro-sul. A expectativa é de chuvas acima da média no período entre 27 de novembro e 11 de dezembro, desde o Rio Grande do Sul até áreas de Minas Gerais e Goiás.
A tendência é de chuvas mais frequentes e espalhadas pelo Brasil nessa primeira quinzena de dezembro, com volumes que podem variar entre 50 e 200 milímetros. A chuva mais expressiva pode avançar pelo Sul, Sudeste, Centro-Oeste e chegar ao Norte, mesmo que de maneira mais concentrada na porção oeste.
Por enquanto, dezembro começa com chuvas irregulares ainda entre o Pará, Tocantins e a região Nordeste, mas isso tende a mudar aos poucos durante a segunda quinzena de dezembro. Há possibilidade para chuvas mais espalhadas e expressivas até o final do ano, e na Bahia, por exemplo, o volume de chuva pode chegar aos 180 milímetros.
De forma mais estendida, existe um cenário de diminuição da intensidade do fenômeno El Niño durante o primeiro semestre de 2024, já com um leve aumento na porcentagem de chances de instalação de uma neutralidade no trimestre maio, junho e julho, algo que vai para mais de 50% de chances. Se vem um La Niña depois disso ainda é cedo para confirmar.
De toda forma, o enfraquecimento do El Niño ainda será lento nos próximos meses, o que abre brechas para a continuidade da irregularidade das precipitações, ou seja, as queimadas precisam continuar sendo monitoradas, mesmo que o número esteja diminuindo de forma gradual com algumas pancadas de chuva que já aconteceram e ainda vão acontecer a partir de dezembro com maior frequência.