Com retorno do La Niña, há riscos para um inverno rigoroso no Brasil? Veja as primeiras impressões

O retorno do La Niña está praticamente cravado para acontecer já no outono, o que abre brechas para um inverno mais rigoroso, mas será que isso de fato vai acontecer no Brasil?

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Previsão para retorno do La Niña sobe para 55% de chances de ocorrer no trimestre entre junho, julho e agosto de 2024. Mapa mostra o resfriamento das águas superficiais do Oceano Pacífico. Fonte: NOAA

Com o enfraquecimento do fenômeno El Niño, as chuvas voltaram a avançar mais para o centro-norte do Brasil, porém, ainda de maneira bastante irregular. As temperaturas que já foram extremamente elevadas em diferentes regiões do país devido intensas e frequentes ondas de calor, agora já ficam mais próximas a climatologia.

La Niña estará de volta a partir do outono de 2024 e abre especulações sobre um possível inverno rigoroso no Brasil. Será que já tem uma data para a primeira queda acentuada das temperaturas? É o que veremos neste artigo.

A expectativa é que o El Niño vá embora já nesse próximo trimestre entre março, abril e maio, quando o Pacífico entra em neutralidade, o que também não deve durar muito tempo, pois a tendência é que o La Niña retorne a partir do trimestre junho, julho e agosto, aumentando as chances de instalação para 68% entre julho, agosto e setembro segundo projeções do NOAA.

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Projeção para o retorno do La Niña nos próximos meses mostra retorno do fenômeno já no outono. Fonte: NOAA

O último La Niña registrado durou por quase três anos e apesar de não ter sido considerado de forte intensidade, foi o suficiente para gerar vários episódios de frio intenso no país.

Aliás, houve o avanço de ondas de frio que foram abrangentes no centro-sul e geraram fortes geadas no Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Com a chegada do La Niña no próximo outono, será que vai dar tempo de uma mudança expressiva na atmosfera para que haja um inverno tão rigoroso assim?

O que esperar da chuva nos próximos meses?

Nas últimas semanas tem sido recorrente eventos de precipitação mais organizados e intensos sobre o centro-norte do país, o que tem sido fundamental para a recuperação dos rios na região Norte e para a agricultura no Nordeste.

Esse cenário tende a ser mantido nesse trimestre entre março, abril e maio, com maior umidade concentrada na faixa norte brasileira por conta das Ondas de Leste e da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).

O que passa a ser novidade nos outros trimestres seguintes não é a chuva ainda concentrada sobre a faixa norte do país, o que aliás, é bem comum nesta época do ano por maior influência da ZCIT, mas sim a tendência de chuvas acima da média (áreas em verde nos mapas abaixo) no leste da região Sul, o que mostra que as frentes frias tendem a ser mais costeiras, o que resulta no não avanço dos sistemas de forma continental para que cheguem ao Sudeste e Centro-Oeste.

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Nos próximos trimestres pode faltar umidade em boa parte do país. Mapas mostram maior concentração da umidade (áreas em verde) em partes do Norte e Nordeste e de forma costeira no Sul. FONTE: ECMWF

Com as frentes frias avançando pouco pela região Sul e logo se afastando para o oceano, a tendência dos próximos trimestres é de chuvas dentro (áreas em branco) ou abaixo da média (áreas em amarelo) na maior parte do país.

Claro que existe o fato de que as chuvas perdem intensidade no outono e no inverno por serem as estações mais secas do ano, mas a preocupação é com o cenário de chover ainda menos que o normal, gerando riscos de secas prolongadas.

O que esperar da temperatura nos próximos meses?

No outono e inverno é comum que a temperatura se torne a variável mais monitorada, lembrando que é também a mais suscetível as mudanças do clima. O frio pode se tornar mais intenso com a chegada do La Niña, o que tem gerado muitas especulações sobre um possível inverno rigoroso no Brasil.

Bom, a péssima notícia para quem aguarda ansiosamente pela chegada desse frio intenso é que isso não tende a acontecer em 2024 segundo as simulações mais recentes do modelo europeu ECMWF.

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Mesmo com fim o El Niño nos próximos meses, temperatura tende a ficar acima da média na maior parte do Brasil outono e inverno. Fonte: ECMWF

Mesmo com o enfraquecimento do El Niño e uma neutralidade cada vez mais próxima, a tendência ainda é de temperaturas acima da média em praticamente todo o Brasil como mostram os mapas acima. Em partes do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, pode haver anomalias de 1 a 2 graus.

Isso pode ter a ver com as frentes frias que tendem a avançar mais de forma costeira, ou seja, mesmo com a queda de temperatura que acontece normalmente após o avanço do sistema frontal, a possível massa de ar frio não consegue avançar de forma muito abrangente pelo continente. O que não significa que não vá fazer frio nos meses de outono e inverno, e nem que não seja possível a ocorrência de eventos extremos de frio no Brasil, principalmente na região Sul.

Primeira onda de frio em 2024 já tem data?

Mesmo com as expectativas de um outono e inverno mais quentes que o normal, não significa que mudanças não possam acontecer nos próximos meses, afinal, ainda estamos nos despedindo do El Niño para nos prepararmos para a chegada do La Niña que é conhecido por derrubar as temperaturas no centro-sul brasileiro.

Com retorno do La Niña, aumentam as preocupações para frio intenso nos meses mais frios do ano. O frio pode ser antecipado com o final do El Niño, o que gera grandes riscos para a agricultura por exemplo.

Ainda que o Oceano Pacífico esteja aquecido por enquanto, mudanças já são esperadas nos próximos meses, mesmo que ocorram de maneira irregular. A grande preocupação com uma neutralidade climática, mas já com viés negativo nos próximos meses, é que o frio chegue de maneira antecipada, o que gera preocupação quanto as geadas nas lavouras.

A tendência é que a primeira onda de frio de 2024 chegue sim mais cedo, já na primeira quinzena de maio, quando as temperaturas mínimas podem ficar em torno dos 5°C em cidades como Bagé (RS) e São Joaquim (SC). Um friozinho que pode avançar até um pouco mais, chegando a Rancharia (SP) e Sete Quedas (MS), mesmo que menor intensidade, com mínimas em torno de 10°C.

Ainda é apenas uma primeira impressão do que pode acontecer nos próximos meses, mas o fato é que mudanças devem ocorrer com a transição do fenômeno El Niño para o fenômeno La Niña.