Como será o clima de agosto? Há chances para novos bloqueios atmosféricos?
Será que no último mês do inverno climatológico haverá ondas de frio? Qual a possibilidade da atuação de bloqueios atmosféricos? Aqui trazemos as últimas atualizações para o mês de agosto.
Agosto é o último mês do inverno climatológico e também o mais seco do ano. Mesmo assim, espera-se a incursão de massas de ar frio intensas pelo centro-sul e chuvas concentradas nos extremos norte, leste e sul do país, onde os acumulados mensais médios podem superar os 200 mm em Roraima e não passam dos 150 mm na Região Sul e no leste do Nordeste.
Para este ano, há a atuação do fenômeno La Niña, que não vem exercendo grandes impactos em virtude da maior influência dos fatores de curto e médio prazo como a Oscilação Antártica (AAO) e de Madden-Julian (MJO), além do padrão de temperatura da superfície do Atlântico Sul, que favorecem a ocorrência de de chuvas expressivas no centro-sul do país, principalmente na Região Sul.
Para o mês de agosto, esses fatores continuam influentes e podem proporcionar cenários distintos entre a primeira quinzena e a segunda.
A temperatura do Atlântico Sul
O mapa mostra a previsão de anomalia das temperaturas dos oceanos para o mês de agosto. As condições mais frias na região do Pacífico Equatorial se mantêm, dando continuidade à condição de La Niña de fraca intensidade.
Já o Atlântico Sul continua aquecido em toda a sua costa, com anomalias mais intensas na porção norte. Para as regiões litorâneas do Norte e do Nordeste, essa condição é mais favorável às chuvas.
O mesmo favorecimento acontece, mas nas regiões Sul e Sudeste é necessário que sistemas transientes de precipitação atuem, e estes serão favorecidos pelas águas mais aquecidas. A presença, frequência e amplitude dos sistemas transientes vai depender mais da AAO e da MJO.
A Oscilação Antártica
A AAO é um índice de previsibilidade máxima de 15 dias e mais confiável até o sétimo dia. Quando traz uma tendência negativa e, principalmente, quando atua em valores negativos, apresenta uma condição que favorece a maior atuação ou frequência de sistemas de precipitação no centro-sul do país, com maior probabilidade para a Região Sul.
Assim, os períodos em que a AAO foi positiva foram mais secos e quentes que o normal, sendo mais evidentes o início de julho e a segunda quinzena do mês, quando padrões de bloqueio atmosféricos foram estabelecidos.
A atualização da previsão do dia 26 de julho, aponta para uma tendência negativa, que proporciona uma maior frequência de sistemas de precipitação sobre a Região Sul, bem como para a incursão de massas de ar polar.
Ainda está incerto, mas há probabilidade de uma tendência positiva da AAO em seguida, o que pode trazer de volta a irregularidade das chuvas para o centro-sul do país.
A Oscilação de Madden-Julian
A MJO atua na forma de potencializar ou inibir os eventos de precipitação através do favorecimento dos movimentos de ascendência e de subsidência sobre o país.
Isso fica bem evidente nos campos de anomalia de precipitação, filtrados para a frequência de 30 a 60 dias, mostrados abaixo. Neles podemos ver que quando a MJO está em suas fases 1, 2 e 8, ela favorece e intensifica as chuvas no centro-norte do país, e o contrário ocorre em suas fases 4, 5 e 6.
Para as próximas semanas, o modelo europeu ECMWF prevê que a MJO deve atuar em neutralidade até pelo menos o dia 25 de agosto. Assim, a oscilação não deve ser um fator determinante para o padrão de precipitação.
A seguir se encontram os mapas de anomalia de precipitação e temperatura para as quatro semanas de agosto referentes à última atualização da previsão estendida do modelo europeu ECMWF.
Anomalias de precipitação para o agosto
As anomalias de precipitação da primeira quinzena de agosto mostram um padrão coerente ao que se espera sob influência de uma AAO negativa e neutra com tendência positiva: chuvas mais expressivas entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina na primeira semana, com chuvas diminuindo na Região Sul e à umidade migrando para o Sudeste e Centro-Oeste. No entanto, para esta época do ano, as chuvas não devem ocorrer de forma organizada e volumosa no centro-leste do país.
Na segunda quinzena não há anomalias expressivas e, até mesmo, há um sinal de valores negativos, o que indica que as duas últimas semanas do mês serão mais secas.
Outro sinal interessante é o aumento das anomalias positivas no leste do Nordeste, que trazem uma influência maior do escoamento de leste, que geralmente acontece quando Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) se aproxima mais do continente. Essa configuração indica uma possibilidade para a formação de um bloqueio atmosférico por volta da última semana.
Anomalias de temperatura para o agosto
Com a AAO negativa, além do aumento das chuvas por atuação de sistema frontais, a incursão de massa de ar polar é favorecida. Essa condição é destacada pelas anomalias negativas no centro-sul do país na primeira quinzena, sendo que o possível ar polar possui maior amplitude na segunda semana.
Já para a segunda quinzena, o que chama a atenção são as anomalias positivas no Brasil Central, negativas no leste do Nordeste na última semana e a condição mais neutra em parte do centro-sul.
Esse padrão traz o indicativo de um cenário muito semelhante ao que foi observado nesta segunda quinzena de julho: temperaturas muito elevadas no Brasil Central, chegando aos 40°C em algumas localidades e sensação mais amena na Região Sul e até mesmo de calor para a época do ano. A diferença está no leste do Nordeste, onde o modelo indica uma condição mais fria na última semana, muito provavelmente por conta da ocorrência da precipitação.
Em resumo, o mês de agosto será mais característico do inverno durante a primeira quinzena do mês, com chuvas mais expressivas na Região Sul e frio no centro-sul. Já na segunda quinzena, há indícios de uma padrão semelhante à segunda metade de julho, com possível formação de bloqueio atmosférico na última semana, quando o padrão é mais seco e quente que o normal.