Como será o clima de novembro: o Prof. Luiz Felippe Gozzo nos traz os detalhes da previsão
Destaque da primeira quinzena são chuvas acima da média no Brasil Central. Já na segunda quinzena, chama atenção a condição mais seca e temperaturas mais elevadas em parte do Norte e Nordeste
A climatologia do Brasil nos mostra que, se outubro é o mês onde as chuvas voltam a ocorrer de forma mais frequente no Brasil Central, novembro é o período do ano onde essas chuvas realmente se consolidam e tornam-se persistentes, na faixa que vai desde o oeste do Amazonas até o Sudeste.
Os mapas do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), acima, mostram a média climatológica de precipitação e de temperatura para o mês de novembro de 1991 a 2020, evidenciando o padrão mencionado: as chuvas se tornam volumosas em todo o Brasil Central, enquanto as temperaturas, no Centro-Oeste especialmente, ficam um pouco mais amenas do que nos meses anteriores. Já no sul do país, as áreas mais frias ficam restritas aos relevos mais altos, enquanto as demais regiões tem aumento de temperatura com a proximidade do verão.
Estas figuras trazem o padrão comum para novembro, esperado a partir do comportamento médio de 30 anos. Vamos ver agora detalhes de como o mês de novembro de 2024, especificamente, vai se mostrar semelhante ou diferente deste padrão médio.
Chuvas acima da média no centro-sul do país, tempo mais seco no norte
O mês de novembro de 2024 começa com previsão de muita chuva, espalhada pelo Sul, Centro-Oeste e grande parte do Sudeste do Brasil. Na primeira semana, especialmente entre os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, os acumulados devem ser consideravelmente acima da média do período. Já no Nordeste, e na porção leste da Região Norte, a tendência é de chuvas abaixo da média, com destaque para Amapá, Roraima e o norte do Pará.
Na segunda semana, entre 11 e 18 de novembro, a chuva diminui no Sul do país, mas ainda se mantém próxima da média. No Nordeste, a área mais seca fica confinada ao leste da Região, enquanto precipitação acima da média é esperada no Brasil Central. Nesta semana, o Norte do país tem um ligeiro aumento das chuvas, ficando toda a Região próxima da média, ou um pouco acima.
Durante a segunda quinzena do mês, entre os dias 18 de novembro e 02 de dezembro, o destaque é a menor quantidade de chuva entre o Nordeste e o leste da Região Norte, que persiste ao longo destas duas semanas. O centro-norte do Pará, o Maranhão e o norte de Minas Gerais devem ser as regiões mais afetadas, apresentando menores chuvas em relação à média. Já no Sudeste e no Sul, as quantidades de precipitação estarão perto da media ou um pouco acima, condição que também cobre a maior parte do Centro-Oeste.
Sem o sinal da La Niña, outras oscilações ditarão o padrão de chuvas
Conforme indicado pelos principais centros de previsão, e endossado pela equipe Meteored | tempo.com, a fase negativa do fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS) está custando para se estabelecer. As últimas previsões probabilísticas indicam que a La Niña deve se formar entre o meio/final de novembro e o início de dezembro. Portanto, a La Niña não deve atuar significativamente sobre o clima do Brasil no próximo mês.
A ausência do sinal da La Niña é evidente nas previsões numéricas da chuva acumulada: o padrão geral de novembro é de chuvas entre normal a acima do normal no Sul brasileiro, e abaixo do normal em grande parte do Norte do país. Este é o efeito contrário do que se estabelece durante eventos de La Niña - portanto, o padrão de chuvas de novembro está sendo influenciado por outras oscilações climáticas.
O principal fenômeno a atuar sobre as chuvas do nosso país, em escala climática, durante o mês de novembro é a Oscilação de Madden-Julian (MJO). Conforme mostram as previsões, ela estará entre as fases 1 e 8 na primeira quinzena do mês, o que tende a favorecer chuvas no Brasil Central e entre o Sul e o Sudeste. Na primeira semana, em sua fase 1, a MJO traz maiores condições de chuvas acima da media para o leste da Região Norte, o que portanto explica o período de chuvas mais abundantes na segunda semana, nesta área.
A Oscilação Antártica (figura não mostrada) também deve colaborar para o início do mês mais chuvoso no Sul e Sudeste, pois estará em sua fase negativa. Porém, logo a Oscilação deve ir para neutralidade.
Além de remeter à atuação a MJO, o padrão de chuvas de novembro também está de acordo com a ocorrência da fase negativa de outra oscilação climática, conhecida como Dipolo do Índico (IOD). O IOD ocorre devido a mudanças na temperatura da superfície do mar na bacia do oceano Índico, e tende a ser mais influente sobre o Brasil no período da primavera (setembro a novembro). Em sua fase negativa, como se encontra agora, o IOD tende a enfraquecer a Alta Subtropical do Atlântico, provocando chuvas acima da média no Sudeste do Brasil, e precipitações menores no sul do país.
Já em relação às temperaturas, elas ficam um pouco abaixo da média no Brasil Central durante a primeira quinzena de novembro, devido às chuvas mais persistentes. Já a partir do dia 18, os termômetros ficam próximos da média, ou um pouco acima, em todo o país. Deve fazer mais calor no interior do Nordeste e leste da região Norte, onde ocorrerão menores volumes de chuva, porém não se espera, para novembro, a ocorrência de ondas de calor intensas - o calor será próximo do normal para esta época do ano.