Especialistas da Meteored indicam aumento da possibilidade de La Niña fraca ou até mesmo neutralidade em 2024
Após o fim do El Niño e da barreira de previsibilidade do outono, os modelos climáticos se mostram cada vez mais pessimistas para a La Niña em 2024 que nos fazem questionar: será mesmo que teremos uma La Niña em 2024?
O El Niño 2023/24, um dos mais fortes da história, está oficialmente e definitivamente encerrado! A fase positiva do fenômeno El Niño - Oscilação Sul (ENOS) vinha influenciando o clima global desde maio de 2023, causando grandes impactos em diversas regiões do planeta, além de contribuir para os recordes de temperatura globais que temos registrado até então.
No último mês observamos o fenômeno dar seus últimos suspiros sobre o Pacífico Tropical, que foi esfriando gradualmente até retornar a neutralidade entre os meses de Maio e Junho deste ano. Inclusive, partes do Pacífico Tropical já registram anomalias negativas de Temperatura da Superfície do Mar (TSM), anomalias que têm ganhado força e se ampliado ao longo das últimas semanas.
Registros recentes da principal região de monitoramento do ENOS, a região do Niño 3.4, mostram que as TSMs estão próximas da média, mas com uma tendência de resfriamento que poderá levar a anomalias negativas de TSM nas próximas semanas. Isso porque logo abaixo da superfície uma bolha de águas mais frias está ressurgindo, colaborando para a manutenção desse esfriamento da superfície que poderá levar ao desenvolvimento da La Niña nos próximos meses.
Por esses motivos, desde abril muitos modelos têm indicado uma rápida transição para um evento de La Niña que, de acordo com rodadas antigas, poderia surgir já no começo deste inverno, atingindo uma intensidade forte entre a primavera e início do verão de 2024/25. Entretanto, muitas incertezas existiam em relação a essas previsões, devido a chamada barreira de previsibilidade climática do outono. Agora, ao nos aproximarmos do inverno e nos afastarmos desse período de incertezas dos modelos, certas mudanças foram observadas em relação às previsões anteriores, previsões que inclusive nos fazem questionar: será que teremos mesmo uma La Niña em 2024?
Modelos estão mais pessimistas para a La Niña em 2024
Os especialistas da Meteored Brasil tem observado que as rodadas mais recentes dos modelos climáticos de previsão do ENOS tem sido bem diferentes das rodadas dos meses anteriores, que apostavam numa transição rápida para a La Niña, com um curto período de fase neutra e uma La Niña intensa, podendo chegar a categoria de moderada a forte no segundo semestre de 2024.
Agora, tanto os modelos quanto os próprios dados observados passaram a mostrar uma transição mais lenta e suave da fase neutra para a La Niña. Isso quer dizer que teremos um período um pouco mais longo de fase neutra,abrangendo grande parte do período de inverno austral. O que nos confirma que realmente não esperamos impactos da La Niña durante os meses de inverno (Junho, Julho e Agosto).
Mesmo que a transição ocorra de forma mais lenta, o Centro de Previsão do Clima (CPC, sigla em inglês) da NOAA afirma, em seu mais recente boletim do ENOS, que a probabilidade da La Niña ocorrer até o verão do Hemisfério Sul é próximas de 80%, e ainda há 65% de chance da La Niña se formar entre os meses de Julho e Setembro, um valor ligeiramente menor em relação à previsão dos meses anteriores.
Em relação a possível intensidade do fenômeno La Niña, a grande maiorias dos modelos deixaram de apostar numa La Niña intensa e passaram a prever uma La Niña de intensidade fraca, ou seja, com valores médios de anomalia de TSM na região do Niño 3.4 dentro do intervalo de -0.5°C e -1°C. Inclusive, os modelos passaram a indicar que a La Niña chegaria ao seu pico máximo de intensidade (que não será muito) somente na virada de 2024 a 2025, como mostra grande parte dos modelos norte-americanos que compõe o NMME.
Inclusive é importante ressaltar que alguns modelos europeus, como por exemplo o ECMWF, modelo de confiança da Meteored, deixaram de apostar numa La Niña, passando a prever condições dentro da neutralidade (anomalias de TSM da região do Niño 3.4 entre +0.5°C e -0.5°C) até novembro deste ano! Isso nos faz questionar se realmente teremos uma La Niña neste ano, e se tivermos, provavelmente ela não será tão intensa quanto esperávamos anteriormente. Para confirmar essas previsões, seguiremos atentos aos dados de monitoramento e as novas rodadas de previsão do ENOS.