Extremos chuvosos continuarão afetando a região Sul do Brasil nos próximos meses
Infelizmente, as previsões climáticas indicam que novos eventos de chuvas extremas e inundações, como o último que provocou 42 mortes, poderão ocorrer novamente nos próximos meses sobre o Sul do Brasil, devido a uma combinação de padrões climáticos.
O Brasil e o mundo assistem com tristeza a situação vivida na região Sul do Brasil, mais especificamente no estado do Rio Grande do Sul, onde 42 pessoas perderam a vida devido às chuvas e inundações catastróficas, que além de tirar tantas vidas causou danos irreparáveis. Infelizmente, as projeções para os próximos meses indicam que eventos como este poderão voltar a ocorrer na região.
A primavera está chegando no Brasil, e com ela temos o retorno das chuvas em grande parte do país. Essas chuvas muitas vezes ocorrem na forma de tempestades intensas e com grandes volumes, principalmente porque nessa estação de transição temos o choque de massas de ar de características bem contrastantes, o que favorece o desenvolvimento de células profundas de convecção.
Sobre o Sul do Brasil, temos um grande desenvolvimento convectivo nessa época do ano, com a formação e passagem de ciclones, baixas pressões, frentes frias e também a ocorrência de Sistemas Convectivos de Mesoescala (SCMs). Além de já ser uma estação chuvosa na região, alguns padrões climáticos podem favorecer ainda mais as chuvas, um deles é o El Niño - Oscilação Sul (ENOS), que atualmente se encontra em sua fase positiva sobre o Pacífico Tropical.
Combinação de padrões oceânicos intensificará as chuvas no Sul
O El Niño, como já mencionamos em outras publicações, gera um padrão de anomalias opostas de chuva sobre o Brasil, causando um déficit de chuvas em grande parte do centro-norte do país e um excesso de chuvas no Sul. Atualmente o El Niño já pode estar exercendo certa influência nos extremos chuvosos que ocorrem sobre o Sul, mas certamente seu maior impacto ocorrerá nos meses de primavera e início do verão, quando o fenômeno atingirá seu pico de intensidade máxima.
Se o El Niño, que atualmente já apresenta anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) de +1.5°C na região do Niño 3.4, atingir a intensidade moderada (anomalia acima de +1.5°C) ou forte (anomalia acima de +2°C), como indica grande parte das previsões dos modelos dinâmicos, esses impactos no padrão de chuvas poderão ser ainda mais acentuados. Ou seja, para a região Sul haveria uma intensificação ainda maior no volume de chuvas.
Mas o El Niño não será o único padrão oceânico a influenciar as chuvas no Sul do Brasil. Sobre o Oceano Índico estamos observando o desenvolvimento da fase positiva do Dipolo do Oceano Índico (DOI), que já apresenta valores positivos da ordem de +1°C, de acordo com a Bureau of Meteorology, da Austrália. Esse dipolo, quando configurado em sua fase positiva, costuma intensificar o transporte de calor e umidade para a região Sul, via Jatos de Baixos Níveis, aumentando o volume de chuvas na região, principalmente sobre o Rio Grande do Sul.
Portanto, a intensificação do El Niño combinado ao desenvolvimento da fase positiva do DOI, irão impulsionar os eventos de chuvas volumosas sobre o Sul nos próximos meses de primavera, podendo se estender até o começo do verão. Além desses padrões oceânicos, se nos próximos meses tivermos períodos de Oscilação Antártica em sua fase negativa, teremos mais um fator, nesse caso atmosférico, contribuindo ainda mais para as chuvas sobre o Sul.
Muita chuva sobre o Sul até o final do ano
As previsões de anomalias de chuvas do modelo do ECMWF para os próximos meses no Brasil indicam justamente um padrão de chuvas que corresponde a um El Niño combinado a fase positiva do DOI, conforme descrito anteriormente: anomalias positivas de chuva mais concentradas no Sul do Brasil e anomalias negativas no centro-norte.
De acordo com as previsões, essas anomalias positivas de chuva sobre a região Sul serão mais intensas no mês de setembro e perderão um pouco de intensidade nos demais meses do ano. Em outubro as anomalias mais intensas de chuva se deslocarão mais para norte, passando a atingir principalmente os estados do Paraná e Santa Catarina.
Nos meses de novembro e dezembro os valores de anomalia positiva de chuva se reduzem sobre o Sul e passam a ficar mais restritos ao oeste da região. De qualquer forma, as previsões indicam que até dezembro de 2023 é alta a probabilidade de registrarmos mais eventos de chuvas volumosas no Sul do Brasil.