Fim de semana de frio intenso: "Onda de frio trará recordes de frio para Brasil", analisa Luiz Felippe Gozzo
Massa polar mais forte do ano até o momento deve fazer com que os termômetros registrem as temperaturas mais baixas de 2024 em capitais como São Paulo e Rio de Janeiro.
Uma potente frente fria já atua sobre parte do Sudeste e Centro-Oeste do Brasil nesta sexta-feira. Como já vinha sendo previsto pelos modelos atmosféricos, este sistema irá se deslocar lentamente, pelo interior do continente sul-americano, e seus impactos devem ser sentidos até mesmo em Mato Grosso e no sul de Rondônia. Após a passagem da frente, uma forte massa fria irá se instalar sobre o centro-sul brasileiro, derrubando as temperaturas ao longo do fim de semana.
E esta não é uma massa fria qualquer, trata-se da massa ar polar mais intensa a atingir o centro-sul do Brasil em 2024 até agora! Portanto, ela deve derrubar os termômetros a temperaturas inferiores às que tivemos desde o começo do ano.
Sábado e domingo: recordes de frio em São Paulo e no Rio de Janeiro
Segundo o modelo ECMWF, haverá frio recorde na cidade de São Paulo no fim de semana! A previsão é que o sábado comece com 6°C na capital paulista, e com o predomínio de nebulosidade quase todo o dia, a máxima não deve passar dos 14°C. A manhã de domingo também deve começar com 6°C, mas como o sol já deve aparecer mais, a temperatura sobe até os 19°C durante a tarde. As temperaturas mínimas do fim de semana não só podem ser mais baixas do que a menor já registrada neste ano (9,7°C em 29/05/2024), como também podem bater um recorde de mais de uma década: segundo dados do Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas da Prefeitura de São Paulo, se estas temperaturas ocorrerem serão as mais baixas para um mês de agosto desde 05/08/2011, quando fez 5,9°C.
Já na cidade do Rio de Janeiro, as temperaturas também irão cair bruscamente, e há possibilidade de recordes, mas não com uma margem tão grande: o modelo prevê que as temperaturas máximas na tarde de sábado e domingo serão de 22°C. Isso é muito semelhante à menor temperatura máxima registrada em 2024 (no dia 30 de junho, 21,8°C), portanto, ainda é possível que tenhamos um recorde. Quanto à mínima, o modelo projeta que será em torno de 13°C (bem acima do recorde mínimo histórico anual, que segundo o Instituto Nacional de Meteorologia é de 8,9°C, em julho de 2011).
As menores temperaturas do ano também devem ser registradas no fim de semana em partes da região Centro-Oeste: a mínima em Campo Grande deve ficar em torno de 8°C, e em Cuiabá, 14°C.
E o que está causando esta massa polar tão potente?
Frentes frias são fenômenos constantes sobre o centro-sul do Brasil, porém a sua intensidade e abrangência são controladas por diversos fenômenos climáticos. No caso desta frente intensa, ela está sendo potencializada por um fenômeno raro que está ocorrendo em altos níveis da atmosfera, acima dos 30 quilômetros de altura: um fenômeno conhecido como "aquecimento súbito da estratosfera".
O aquecimento súbito da estratosfera, como o nome indica, é um aumento anormal da temperatura do ar por volta dos 30, 40 quilômetros de altura sobre o Polo Sul. Esse aquecimento perturba as correntes de vento em todo o hemisfério Sul, e faz com que a Oscilação Antártica chegue a valores muito negativos. Atualmente, o índice da Oscilação Antártica está inferior a -4, um valor extremamente baixo que há muitos anos não era registrado.
A consequência deste aquecimento estratosférico, e da Oscilação Antártica muito negativa, é esse: o transporte de massas muito frias para latitudes mais baixas, onde elas dificilmente chegam, e o deslocamento de massas muito quentes para latitudes mais altas. Esse é exatamente o cenário do hemisfério Sul neste período, como mostra a figura acima. E para se ter uma ideia de como essa condição é rara, lembramos que a última vez em que houve um aquecimento estratosférico tão forte no Hemisfério Sul como o que vivemos atualmente foi há mais de 20 anos, em 2002!
Claro que na atmosfera não é apenas um único fenômeno o responsável por eventos extremos, mas sim uma soma de fatores. Dentre os causadores desta onda de frio notável que viveremos neste fim de semana, podemos afirmar que há um "empurrãozinho" desta incomum anomalia estratosférica!