Grande parte do Brasil sob chuvas nos próximos 15 dias. Como serão e onde teremos os maiores acumulados?
Nas próximas semanas as chuvas continuam ocorrendo em grande parte do Brasil, mas os eventos mais volumosos ocorrem entre as regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste, mas também na região Sul. Quais os principais fatores que estarão influenciando essas chuvas?
Os primeiros dias de 2024 já se mostraram diferentes do padrão que observamos até o final de 2023, quando tivemos chuvas mais concentradas no Sul do Brasil e um padrão mais seco predominando no restante do país. Logo na primeira semana do ano tivemos a formação da primeira Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) do atual período chuvoso, o que resultou numa mudança desse padrão de chuvas, fazendo com que os acumulados mais elevados passassem a ocorrer sobre partes do Brasil Central e Sudeste.
Apesar da ZCAS ter perdido força, ainda vemos seus reflexos na organização das chuvas no Brasil, que continuam a ocorrer no Centro-Oeste, sul da região Norte, partes do Sudeste e também do Nordeste, deixando de ficar concentrada sobre a região Sul. Isso porque além da ZCAS temos outros importantes sistemas meteorológicos contribuindo para a continuidade das chuvas em grande parte do Brasil, como a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), a Alta da Bolívia, o Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) e as frentes frias. Isso sem falar do próprio fator termodinâmico na atmosfera, a combinação de calor e umidade que nessa época também é um grande responsável pelas chuvas e tempestades.
As chuvas geradas por esses sistemas ainda são impulsionadas quando padrões como a Oscilação de Madden Julian (OMJ) se encontram em fases favoráveis à precipitação no Brasil. No caso da OMJ as fases mais favoráveis a precipitação no centro-norte do país são as fases 8, 1 e 2. No período em que tivemos a primeira ZCAS do ano, a OMJ esteve em fases favoráveis, impulsionando os acumulados de chuva associados à ZCAS.
Outro importante fator que tem mostrado grande influência na modulação das chuvas são as anomalias de Temperatura de Superfície do Mar (TSM) sobre o Oceano Atlântico Sul. Nos últimos dias temos observado um padrão de anomalias opostas entre a porção norte e sul do Atlântico Sul, criando uma espécie de dipolo, com anomalias negativas de TSM sobre a porção sul, próximo a região Sul, e anomalias positivas de TSM sobre a porção norte, abrangendo uma ampla área desde a costa da região Sudeste até a costa do Norte do Brasil.
Esse padrão de anomalias de TSM favorece a estacionariedade das frentes frias que atuam sobre o oceano na altura da região Sudeste, favorecendo então a organização das chuvas e do corredor de umidade sobre o continente, desde o sul do Norte, passando pelo Centro-Oeste e chegando ao Sudeste do país. Além disso, essas águas mais quentes que o normal na costa do Sudeste e Nordeste favorecem a convergência de calor e umidade na costa dessas regiões, além de favorecer a formação de ciclones, como foi o caso do ciclone subtropical formado na última semana.
Como ficam as chuvas nas próximas semanas?
Na próxima semana teremos um período de favorecimento às chuvas por parte da OMJ, que ficará em sua fase 2 nos próximos dias, não tão intensa quanto esteve na semana passada, mas de qualquer forma estará contribuindo para um aumento dos acumulados de chuvas sobre o centro-norte do Brasil, principalmente na costa da região Norte, sobre o estado do Amapá, por exemplo, onde a OMJ impulsionará os altos acumulados de chuvas gerados pela ZCIT.
Na próxima semana a OMJ já entrará em suas fases 3 e 4, fases em que a oscilação passa a desfavorecer as chuvas sobre grande parte do Brasil, especialmente no leste da região Norte, e grande parte das regiões Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Portanto, esperamos uma redução dos acumulados de chuva a partir da próxima semana.
Nesta semana uma nova frente fria que se formará sobre o Sul do Brasil a partir de quinta-feira (11) será responsável por gerar altos acumulados de chuva sobre os estados do Sul, mas também sobre o Sudeste e Centro-Oeste, onde a frente organizará as chuvas por alguns dias sobre a região, mesmo afastada do continente, mas não necessariamente formando uma ZCAS. Dessa forma, esperamos grandes volumes de chuva nesta próxima semana sobre o Sul, principalmente sobre o Rio Grande do Sul, e partes do Centro-Oeste e Sudeste.
Conforme podemos ver nos campos de anomalias de acumulados semanais de chuvas do modelo ECMWF para as próximas duas semanas, as chuvas desta semana ficarão acima da média climatológica sobre o Rio Grande do Sul e partes do Centro-Oeste e Sudeste, de acordo com o que foi mencionado anteriormente. Já na próxima semana, entre os dias 15 e 22 de janeiro, o padrão de chuvas muda sobre o Brasil, com menos chuvas que o normal sobre grande parte do centro-norte do país, acumulados próximos da média sobre o Sudeste, com uma pequena região entre o Rio de Janeiro e Espírito Santo com previsão de chuvas acima da média, e chuvas mais volumosas sobre o Rio Grande do Sul.
Essa mudança de padrão na segunda semana de previsão provavelmente está associada à mudança de fases da OMJ. Entretanto, vale mencionar que a OMJ provavelmente continuará seu ciclo e retornará às fases favoráveis à chuva no Brasil nas primeiras semanas de fevereiro. Dessa forma, devemos esperar chuvas mais volumosas na virada do próximo mês, mas esse será assunto de um próximo artigo de previsão da Meteored Brasil.