La Niña: evento será no máximo de fraca intensidade e com pouca influência no verão brasileiro, segundo Meteored Brasil
A condição de La Niña que vem lentamente se configurando no Pacífico está representando um desafio de previsão ao longo de todo esse ano. Na atualização mais recente, expectativa é de fenômeno fraco.
O El Niño, condição de anomalias positivas de temperatura da superfície do mar (TSM) na região do oceano Pacífico Tropical chegou ao fim no ultimo mês de maio. Seguindo a evolução do El Niño-Oscilação Sul (ENOS), a oscilação climática mais importante do nosso planeta, a expectativa era de um período neutro e um novo evento de La Niña. Porém, ao longo de todo o ano de 2024, a chegada da La Niña, e a sua intensidade, tem sido um desafio para os previsores!
Em abril de 2024, os modelos climáticos apontavam uma probabilidade em torno de 85% do estabelecimento de uma La Niña no trimestre outubro-novembro-dezembro, com intensidade moderada, quase forte: a anomalia de TSM prevista estava próxima dos -1,5°C. Em junho, a probabilidade do fenômeno ocorrer entre outubro e dezembro ainda estava em torno de 85%, porém sua intensidade prevista diminuiu para fraca a moderada, com anomalia de TSM em torno de -1,0°C.
Ao contrário do que os modelos previam no primeiro semestre, antes da passagem da barreira de previsibilidade do outono (uma condição conhecida dos cientistas, onde os modelos climáticos tem dificuldade de acertar as previsões do El Niño antes de junho), estamos, neste mês de outubro, ainda com condição de neutralidade no Pacífico equatorial.
Durante as últimas quatro semanas, anomalias negativas de TSM fracas se configuraram no Pacífico central e leste, enquanto a TSM segue em geral quente no setor oeste. Embora as regiões do Niño 1+2 e 3 (mais a leste) apresente um sinal de águas mais frias persistente desde junho, a região do Niño 4 continua com águas quentes. No Niño 3.4, a região de monitoramento oficial do ENOS, a anomalia de TSM da última semana foi de -0,5°C, o que representa o limiar entre a neutralidade e a La Niña. Situação bem distinta do que os modelos previam há meses atrás!
Qual é a perspectiva mais recente sobre a La Niña?
Em seu boletim mais recente, lançado na última semana, a NOAA traz uma probabilidade menor de ocorrência de um evento de La Niña até novembro. A probabilidade, que como comentado anteriormente era de mais de 85%, caiu a 60%. Assim, embora a condição mais provável ainda seja do estabelecimento do evento, há uma menor confiança do que antes de que realmente ela irá se configurar nesse período.
Agora, a chegada da La Niña está mais provável para o meio/final de novembro, ou início de dezembro. E a indicação do conjunto de modelos é que o evento dure até por volta de março ou abril de 2025. Após esse período, deve ocorrer uma nova neutralidade, a durar até em junho ou julho do ano que vem.
Em relação à intensidade, o conjunto de modelos climáticos converge na previsão de um evento fraco. As anomalias de TSM devem ficar em torno de -0,5°C, com pequena probabilidade de chegar até mesmo a -1,0°C (o que caracterizaria um evento moderado). Alguns modelos apresentam soluções absurdas, como os modelos dinâmicos NASA-GMAO e BCC_CSM11m. Isto pode ser explicado pela Teoria do Caos, porém essas soluções são descartadas e devemos focar, via de regra, no valor médio de todas as simulações (linhas mais grossas na figura acima).
No registro histórico do ENSO, coletado a partir de 1950, apenas quatro eventos de La Niña se formaram tão tarde quanto este evento de 2024. Estes quatro eventos foram todos fracos ou chegaram, no máximo, ao limiar da intensidade moderada (-1,0°C). Como os eventos ENSO climatologicamente atingem seu pico durante o verão do hemisfério Sul, haverá pouco tempo para esta La Niña atual se desenvolver.
E os possíveis efeitos no verão brasileiro?
A intensidade de um evento ENSO é uma característica importante pois, quanto mais intenso for o evento, maior é a sua condição afetar a circulação atmosférica de forma mais consistente, levando a impactos mais marcados na temperatura e precipitação de locais distantes. No caso da atual La Niña prevista, sua intensidade fraca deve fazer com que tenha influência reduzida sobre os padrões atmosféricos na América do Sul.
A previsão mais recente dos modelos climáticos do programa europeu Copernicus indica que o padrão de precipitação no verão brasileiro pode ter uma certa influência da La Niña: observa-se um sinal de menos chuva no sul do país, e chuvas acima da média no norte. Porém, o sinal mais seco no sul é relativamente fraco. Em relação às temperaturas, os modelos preveem um verão mais quente do que a média em todo o país, o efeito contrário do que se esperaria em um período de La Niña intensa.
Fiquem ligados na Meteored|Tempo.com para acompanhar as últimas atualizações sobre a condição do ENOS e a previsão climática para os próximos meses.