O clima no inverno: Pacífico e Atlântico vão proporcionar uma estação mais quente e úmida no Brasil
Parte do inverno será sob influência do fenômeno El Niño e, juntamente com o Atlântico, podemos ter uma estação mais umidade e quente que o normal. Confira aqui a discussão e a previsão.
Esse ano será diferente em relação aos últimos dois anos. Não estamos mais sob o efeito do La Niña e caminhamos para uma condição de El Niño nas próximas semanas.
A região do que determina esses fenômenos, Niño 3.4, a porção central do oceano Pacífico Equatorial, já está com aquecimento de 0,5°C, ou seja, já se encontra no limiar de anomalia do El Niño. Caso essa condição persista ou se intensifique, como é a previsão, por 3 trimestres móveis consecutivos ou 5 meses seguidos é determinado oficialmente o fenômeno.
No entanto, os efeitos desse aquecimento no Brasil podem ser sentidos a partir do segundo e do terceiro mês dependendo da intensidade. Assim, o fenômeno El Niño vai influenciar o clima no Brasil a partir da segunda quinzena de julho e início de agosto.
Efeitos do El Niño no Brasil
O fenômeno El Niño durante o inverno aumenta a frequência de chuvas sobre parte do centro-sul do Brasil, com maior reflexo, ou correlação, sobre a Região Sul, onde as chuvas tendem a continuar. Já no Sudeste, a correlação maior está com relação às temperaturas, onde se espera um padrão mais quente. Para as demais regiões do Brasil, durante a estação, como se trata de um período seco, não há relações de impacto.
Como o El Niño vai atuar até pelo menos o início do próximo ano, influenciando o período úmido. Assim, os efeitos são os mesmos sobre as regiões Sul e Sudeste, e sobre o Centro-Oeste, Norte e Nordeste, a correlação com a precipitação aparece, trazendo um cenário de acumulados muito abaixo da média.
Oceano Atlântico Sul
O oceano Atlântico é outro fator que vai influenciar os meses de inverno no Brasil. As águas do Atlântico Sul se encontram mais aquecidas em toda a sua extensão e acaba funcionando como uma fonte de umidade para toda a faixa costeira do país.
Como a circulação de leste aumenta nesta época do ano devido à aproximação da Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS), o leste do Nordeste pode receber chuvas acima da média ao longo do inverno. Já no litoral norte do Brasil, mesmo com a redução da precipitação que ocorre nessa época do ano, essa fonte de umidade extra pode proporcionar eventos de chuva persistentes.
Na Região Sul, as águas mais aquecidas contribuem para potencializar os sistemas de precipitação e, consequentemente, aumentam o potencial de chuvas, principalmente nas áreas do leste.
No Sudeste, caso os sistemas de precipitação conseguirem se formar ou atuar na Região, há maior possibilidade de chuvas persistentes, que têm maior probabilidade de ocorrerem nesta época do ano no estado de São Paulo, no sul de Minas Gerais e no Rio de Janeiro.
Previsão do modelo ECMWF para o inverno
Aqui mostramos o que o modelo de confiança da Meteored, o ECMWF, está prevendo para o trimestre junho-julho-agosto (JJA). Já de antemão podemos dizer que os cenários de anomalia de precipitação e de temperatura estão coerentes com o que se espera das influências dos oceanos Pacífico Equatorial e Atlântico Sul.
As anomalias de precipitação para o trimestre JJA mostram volumes acima da média no centro-sul do Brasil, sendo mais intensas sobre a Região Sul. O interessante também de notar é a possibilidade de chuvas acima da média em parte do Sudeste, a qual deve ter cuidado na interpretação. Como a média pluviométrica é muito baixa nessa época do ano, qualquer evento de chuva pode atingir ou até mesmo passar o esperado para o trimestre, não representando necessariamente uma condição chuvosa que, está sim, pode ser esperada para o Sul do Brasil.
Em relação às temperaturas, o modelo aponta para a possibilidade de temperaturas acima da média em todo o Brasil. Isso realmente acontece, mesmo que a correlação de temperatura esteja mais associada ao Sudeste nos casos de El Niño e La Niña.
A lógica para isso não é muito complexa. Como os sistemas de precipitação atuam por mais tempo no Sul do Brasil ou até mesmo não conseguem avançar para o restante do país, a incursão de massas de ar frio fica prejudicada. Assim, há uma maior atuação dos ventos de norte que acabam por transportar o ar mais quente do centro-norte para o centro-sul, proporcionando um período mais quente que o normal.
Como conclusão, podemos dizer que o inverno de 2023 será mais quente em todas as regiões e mais úmido na Região Sul e no leste do Nordeste, com possibilidade de chuvas também em parte do Sudeste, onde há maior probabilidade de precipitação para o estado de São Paulo, o sul de Minas Gerais e o Rio de Janeiro.