O fim da onda de calor representa o retorno da frequência das chuvas para a Região Sul?
Já anunciamos o fim da onda de calor e o risco de tempo severo para a Região Sul nos próximos dias. No entanto, essa mudança representaria o retorno das chuvas frequentes? Respondemos aqui.
O desejo pelo fim da onda de calor na Região Sul será atendido nos próximos, com o avanço de uma frente fria que, além de possibilitar a atuação de uma massa de ar frio, traz elevado potencial de tempo severo para os três estados da região.
No entanto, essa mudança de padrão pode trazer a esperança de um aumento da frequência das chuvas e o alívio da escassez que vem atingindo boa parte da Região Sul, principalmente o estado do Rio Grande do Sul, mesmo sob a atuação do fenômeno El Niño.
Infelizmente, os demais fatores climáticos vão impossibilitar esse retorno tão esperado para a Região Sul até pelo menos o fim do mês de fevereiro, com essa condição se estendendo para parte do centro-sul do Brasil. Isso é o que o modelo de confiança da Meteored, o ECMWF, vem sinalizando para a segunda quinzena de fevereiro.
Previsão do modelo ECMWF: chuvas irregulares continuam para boa parte da Região Sul
A segunda quinzena de fevereiro será diferente em relação à primeira, uma vez que há expectativa de chuvas mais volumosas e melhor distribuídas no centro-norte do Brasil. Isso representa que a Região Sul, principalmente os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina vão continuar com a irregularidade da precipitação.
O modelo ECMWF ilustra essa condição para o período do dia 19 ao 26 de fevereiro. As anomalias de precipitação positivas se espalham por boa parte do Brasil, sendo mais intensas na porção central do Brasil. Já a Região Sul, mostra anomalias negativas para o Rio Grande do Sul, boa parte de Santa Catarina e para o sul, sudoeste e extremo oeste do Paraná, trazendo a expectativa de irregularidade das chuvas para esse período.
Qual o motivo da pouca chuva na Região Sul?
Mesmo com a presença do fenômeno El Niño, as chuvas na Região Sul passaram a ser mais irregulares neste ano. A explicação está em que o El Niño não é o único fator climático a influenciar o padrão climático no Brasil. Há pelo menos outros três mais: a temperatura das águas do Atlântico Sul e as oscilações de Madden-Julian e Antártica.
O padrão atual das águas do Atlântico Sul nos traz uma condição mais aquecida na sua porção centro-norte e mais fria na altura da Região Sul, como pode ser visto no mapa de anomalia de temperatura da superfície do mar para todo o globo. Essa condição prejudica o tempo de atuação e até o desenvolvimento de sistemas de precipitação próximos na Região Sul. Por exemplo, uma frente fria ao avançar se desloca mais rapidamente para o oceano ou não consegue se manter muito ativa pela condição mais fria das águas.
No entanto, a diminuição da frequência da precipitação se explica melhor pela Oscilação Antártica atuando com índice positivo, que representa fisicamente a intensificação do Vórtice Polar sobre a Antártica, que acaba deslocando para mais próximo do continente antártico as baixas pressões e ciclones extratropicais e, consequentemente, afastando da América do Sul.
A Oscilação de Madden-Julian por sua vez influencia mais o centro-norte do Brasil, mas como reflexo, também observamos efeitos no Sul do país. Quando esse fator atua em alguma fase que favorece as chuvas no centro-norte, consequentemente há uma redução no centro-sul.
Assim, a soma da previsão da Oscilação Antártica positiva, com Madden-Julian em neutralidade e as águas mais frias na altura da Região Sul proporcionam uma condição pouco favorável às chuvas sobre o Rio Grande do Sul e parte dos estados de Santa Catarina e do Paraná.