O outono chegou no Brasil! O que esperar do clima na estação sem a La Niña?
O verão finalmente acabou dando lugar ao outono no Brasil! Com a chegada da nova estação, já observamos uma grande mudança no padrão climático brasileiro. Mas o que será desse outono sem a La Niña ou o El Niño?
Hoje nos despedimos de vez do verão de 2022/23 e damos boas-vindas ao outono de 2023! Além do verão, finalmente nos despedimos da La Niña - fase negativa do padrão climático El Niño Oscilação Sul (ENOS) - que atuou por 3 verões consecutivos, com início na primavera de 2020! Com a La Niña fora de cena, o que podemos esperar nessa nova estação?
Apesar do El Niño - fase positiva do ENOS - já estar aparecendo no horizonte das previsões climáticas, por enquanto só temos sua versão menor, o El Niño costeiro, atuando na costa do Peru e Equador. Dessa forma, o outono será marcado por condições de neutralidade no Oceano Pacífico Tropical, ou seja, sem La Niña ou El Niño.
Sem o grande padrão ENOS, o que será da variabilidade climática nos próximos meses? Apesar de ser o maior padrão de variabilidade do clima, o ENOS não é o único. Outros padrões oceânicos também são muito importantes para a variação climática da América do Sul, como anomalias de Temperatura da Superfície do Mar (TSM) registradas no Oceano Atlântico, principalmente no Atlântico Sul.
As previsões climáticas, como a do modelo ECMWF, indicam que enquanto o sinal de aquecimento das TSM no Pacífico fica bem restrito a porção leste, quase todo o Atlântico Sul estará mais quente que o normal durante o outono, principalmente na porção tropical, próximo a costa das regiões Norte e Nordeste, e subtropical, próximo a costa da Argentina e Uruguai, principalmente. Vamos entender seus possíveis impactos mais adiante, primeiro, vamos relembrar as características climáticas do outono brasileiro!
Como é o clima de outono no Brasil?
Antes de partirmos para a previsão, vamos lembrar as principais características do outono no Brasil, em termos climatológicos. Lembrando que quando falamos em climatologia estamos falando das características do clima de determinado período do ano baseado no cálculo da média de diversas variáveis climáticas para longos períodos, preferivelmente de 30 anos.
A primeira coisa que notamos logo no início do outono é uma mudança no padrão de chuvas no Brasil. As chuvas volumosas deixam de acontecer sobre as regiões Centro-Oeste e Sudeste, passando a ocorrer de forma mais irregular. Nessas regiões, passamos a registrar um maior número de dias de tempo mais estável, com baixa umidade relativa e grande amplitude térmica - tardes quentes e noites mais frias.
As chuvas mais volumosas passam a ocorrer na região Norte e partes do Nordeste, principalmente no litoral norte. Isso porque essa é a estação que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) atinge sua posição mais ao sul de seu ciclo anual. Dessa forma, a ZCIT permanece muito tempo na costa das regiões Norte e Nordeste provocando muitas chuvas, que podem ser impulsionadas pela Oscilação de Madden Julian. O litoral leste da região Nordeste também passa a registrar mais chuvas nessa época, devido a aproximação da Alta Subtropical do Atlântico do Sul (ASAS) do Brasil.
No Sul as chuvas passam a ocorrer com maior frequência, junto com o aumento da frequência da passagem de frentes frias e ciclones próximos à costa. Junto com as frentes frias vem as massas de ar frio que já passam a causar uma grande queda de temperatura nos estados do Sul, Sudeste e sul do Centro-Oeste, que resultam em temperaturas médias mais amenas.
Como será o outono de 2023?
Como mencionado, o grande influenciador do clima neste outono do Brasil deverá ser o Atlântico Sul, que estará mais quente que o normal em sua porção tropical e subtropical. As águas mais quentes no setor tropical poderão aumentar a quantidade de calor e umidade na costa das regiões Norte e Nordeste. Isso poderá aumentar a formação e o volume de chuvas nessas regiões! O modelo ECMWF indica probabilidades de chuvas acima da média para o norte e leste do Nordeste e as porções sul e leste da região Norte.
Já para o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil não há um sinal tão claro de desvios de chuva no trimestre de abril, maio e junho. Aparentemente o volume de chuvas deverá ficar próximo a média climatológica nessa estação, com exceção do norte do estado do Mato Grosso, que poderá receber mais chuvas que o normal.
Para a região Sul o modelo indica uma tendência de acumulados de chuva próximos a média ou abaixo dela, principalmente no Rio Grande do Sul. Apesar de não estar mais sob influência da La Niña, as anomalias quentes de TSM sobre o Atlântico Subtropical poderão fazer com que as frentes e ciclones se desloquem rapidamente para o oceano, não organizando as chuvas nessa região.
Em relação às temperaturas médias, o modelo ECMWF indica que elas ficarão próximas ao esperado em grande parte do Brasil, com probabilidade de ficar acima da média no extremo sul e extremo norte do país. Lembrando que dentro do trimestre do outono são esperadas grandes variações de temperatura, com dias mais quentes seguidos de dias com grandes quedas de temperaturas, devido a passagem das frentes frias, principalmente no Centro-Sul do país.