Onda de calor de setembro será intensa e duradoura. Professor Luiz Felippe Gozzo nos explica esse padrão climático
Modelos prevêem temperaturas próximas dos 40°C nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Entenda os fatores climáticos que vão provocar esta onda de calor, e veja até quando ela deve durar!
A massa de ar frio que provocou temperaturas negativas e geada generalizada no final de agosto deve ter sido a última massa intensa deste ano. A partir de agora, o clima começa a mudar para o padrão de verão, e as frentes frias tendem a ser mais fracas e com menor abrangência.
Sendo o período de transição entre o inverno e o verão, o mês de setembro normalmente ainda tem o predomínio do tempo estável e com pouca chuva do inverno, porém já começa a receber mais radiação solar pela aproximação do verão. Esta combinação provoca temperaturas elevadas, em grande parte do Brasil Central. Neste ano de 2024, a situação se repete, porém a previsão é de que na primeira quinzena do mês faça ainda mais calor do que a média!
Muito calor e pouca chuva na primeira quinzena de setembro
A primeira metade de setembro será caracterizada por calor intenso, e muitas áreas do Sudeste, Centro-Oeste e também da região Norte podem registrar uma onda de calor. A partir do começo da próxima semana já estará muito quente, e as temperaturas ainda vão se elevar mais nos próximos dias, chegando aos maiores valores no Centro-Oeste: Campo Grande deve bater os 41°C, e Cuiabá pode ir a 43°C, no primeiro fim de semana de setembro (dias 07 e 08). O calorão também vai atingir a região central e oeste do estado de São Paulo e o noroeste do Paraná - nestas localidades, os termômetros devem chegar aos 38°C em muitas cidades.
Áreas do Norte do país também serão afetadas pelo forte calor. As maiores temperaturas devem ser registradas no leste do Amazonas, com Manaus podendo registrar até 40°C em 09 de setembro.
Neste cenário de calor generalizado, apenas a região Nordeste deve ter uma quinzena próxima da normalidade: as temperaturas em todos os estados devem se elevar gradualmente, como é normal neste período, mas não são esperadas ondas de calor tão intensas. Os ventos que sopram constantes do mar mantém a nebulosidade principalmente na faixa leste, deixando as tardes um pouco mais amenas.
O intenso calor está associado a pouca chuva: o modelo ECMWF indica que na maior parte do Brasil, até o dia 16 de setembro, deve chover abaixo da média. Com isso, o Sol e o tempo seco predominam.
Oscilações climáticas que estão causando a onda de calor
Toda a situação de calor e tempo seco no início de setembro será provocada pelo estabelecimento de uma forte circulação anticiclônica (alta pressão) sobre o Brasil Central. Esta circulação provoca movimento descendente do ar na atmosfera, dificultando a formação de nuvens, aquecendo ainda mais o ar, e dificultando a passagem de sistemas meteorológicos que poderiam aliviar esta situação, como as frentes. E o que está favorecendo a persistência desta alta pressão?
Ela é o resultado combinado da atuação de várias oscilações climáticas diferentes, a maioria provocadas pela temperatura da superfície do mar mais quente em regiões distantes do planeta. As águas mais aquecidas do Atlântico Norte e do Pacífico Oeste perturbam a atmosfera, gerando um domo de alta pressão sobre o Sudeste do Brasil. A La Niña, embora ainda não totalmente estabelecida, tem um impacto moderado sobre as condições do Brasil durante a primavera, e pode estar sendo um ingrediente a mais para manter o tempo estável.
Além das anomalias oceânicas, a previsão da Oscilação de Madden-Julian indica que ela estará passando nesse período da fase 4 para a fase 5, o que tende a desfavorecer as chuvas no Brasil Central e causar maiores temperaturas no leste da Amazônia.
A situação de calor e secura dos primeiros quinze dias do mês é especialmente preocupante no momento em que estamos vivendo, pois pode agravar o problema das queimadas. Além disso, a partir de setembro uma corrente de ventos que sopra do interior do Brasil em direção à região Sul, o Jato de Baixos Níveis, torna-se mais frequente, podendo contribuir ainda mais para o transporte da fumaça do interior para o Sul e Sudeste do país.