Outono: fenômeno La Niña ganha força já no início da estação
O outono climatológico iniciou e há expectativa da intensificação do fenômeno La Niña. Confira aqui as expectativas para o trimestre março-abril-maio com base nos modelos americano e europeu.
O outono é uma estação de transição do período úmido para o período seco. Assim, o mês de março representa o último mês de chuvas mais expressivas na porção central do país e, nos meses seguintes, a precipitação passa a aumentar nos extremos norte, leste e sul. Também se espera as primeiras incursões de massas de ar frio, que comumente passam a ser mais evidentes a partir do final de abril.
A presença do fenômeno La Niña vem influenciando o clima na América do Sul desde novembro de 2021. Assim, como é de conhecimento de todos, tivemos: irregularidade das chuvas na Região Sul, acarretando em quebra da safra de grãos e níveis de armazenamento dos reservatórios muito baixos; no restante do país, combinando com um Atlântico Sul mais aquecido, um período úmido excepcional.
Para os próximos meses a previsão é de continuidade do fenômeno e até mesmo de intensificação, podendo a ser de forte intensidade. Algo incomum para essa época do ano. No entanto, é o que o modelo CFSv2 projeta. Apesar de este modelo indicar um cenário diferente da maioria, vem sendo bastante coerente com a realização do comportamento das temperaturas do oceano. Assim, seguimos para a análise.
O fenômeno La Niña ganha força já em março
Até o momento o resfriamento da região do Pacífico Equatorial atingiu seu pico entre meados do mês de dezembro de 2021 e início de janeiro de 2022, quando todas as regiões de monitoramento do ENOS, Niño 4, Niño 3.4, Niño 3 e Niño 1+2, registraram anomalias, em sua maioria, abaixo de -1°C.
A partir de então as anomalias negativas perderam intensidade devido à presença de bolhas de águas subsuperficiais mais quentes, que davam o indicativo de se manterem e deslocarem em direção à superfície, proporcionando uma expectativa de enfraquecimento do fenômeno e até mesmo do retorno da neutralidade no final do outono.
No entanto, houve a quebra deste comportamento. O curso das águas mais quentes foi interrompido no final de fevereiro e uma região mais fria surgiu. Além disso, a bolha de água quente passou a retroceder, se deslocando para oeste em direção ao Niño 4.
Segundo o modelo CFSv2 o resfriamento das águas continua e o La Niña pode atingir um pico de intensidade entre abril e maio, tratando-se de um fenômeno de moderada a forte intensidade até pelo menos a primavera. Os últimos registros de um fenômeno La Niña persistente ao longo de todo os meses se deram nos anos de 1999 e de 2000.
Anomalias de precipitação e temperaturas para o trimestre março-abril-maio
Aqui vamos analisar as anomalias de precipitação e temperaturas para o trimestre março-abril-maio dos modelos CFSv2 e ECMWF. Você pode se questionar sobre um detalhe: a projeção para o La Niña considerada é feita pelo modelo CFSv2. Por quê então analisar o modelo ECMWF? Realmente parece incoerente, mas o modelo ECMWF também prevê a continuidade do La Niña nos próximos meses, apesar de bem menos intensa, e também as anomalias correspondem a um padrão climático sob influência do fenômeno.
Em primeiro momento, é necessário analisar a escala de cada previsão da variável anomalia de precipitação. No modelo ECMWF (mapas superiores) trata-se da anomalia do acumulado mensal e no CFSv2 da anomalia em relação à taxa de precipitação de mm por dia. Para fins de comparação, basta dividir os valores do modelo ECMWF por 90 (dias em 3 meses).
Assim, a distribuição das anomalias de precipitação são equivalentes: anomalias negativas na Região Sul e positivas na Região Norte e na porção nordeste do Nordeste. Essa última condição para o Nordeste, além de associada ao La Niña, é principalmente influenciada pela manutenção de um padrão mais aquecido na porção norte do Atlântico Sul.
Já em relação às anomalias de temperatura se observa uma concordância dos modelos de um padrão mais frio no centro-sul, o que corresponde a atuação mais frequente de massa de ar frio. Condição esta, que já deve se iniciar na segunda quinzena de março.
No entanto, para a porção leste do país, incluindo as regiões Sudeste e Nordeste, o modelo CFSv2 traz um padrão mais aquecido, que na minha perspectiva é incoerente. Pois bem, quando há La Niña espera-se que os sistemas frontais tenham mais liberdade para avançar e assim as massa de ar frio também. Além disso, há um aumento da precipitação nessa porção leste, com destaque para o Nordeste. Mesmo que os sistemas atuem de forma mais oceânica, as massas de ar frio conseguem transportar mais efetivamente o ar frio para as regiões costeiras ou mais próximas da faixa leste. Assim, o modelo ECMWF demonstra um padrão térmico mais coerente.
Conclusão do padrão climático para o outono
O fenômeno La Niña irá continuar e ganhar intensidade. Assim, espera-se a continuidade das chuvas irregulares na Região Sul. Eventos de chuvas irão ocorrer, mas muito espaçados. No Sudeste, as chuvas mais volumosas ocorrem em março, com redução gradativa nos meses seguintes, ou seja, um cenário dentro da normalidade. Já no leste do Nordeste na Região Norte, aumento da precipitação.
Em relação às temperaturas, o frio deve começar mais cedo e a estação pode ser mais fria que o normal, principalmente para a Região Sul e porção leste do país.