"Primavera sem La Niña": como será o clima no Brasil durante o próximo trimestre
O trimestre outubro-novembro-dezembro deve ser de chuvas abaixo da média em grande parte do Brasil e temperaturas altas generalizadas. A temperatura do Atlântico será crucial para o clima do país.
A La Niña não vem mais, ou pelo menos não com a intensidade que era esperada! A principal oscilação climática do nosso planeta, que no início do ano chegou a ser prevista para estar muito intensa no final de 2024, deve ser apenas um evento fraco. E tão "desanimada" quanto a La Niña, outra oscilação muito importante que modula a chuva durante a primavera na América do Sul, o Dipolo do Índico, também está em fase neutra e prevista para continuar nesta situação até fevereiro do próximo ano.
Neste contexto, como devem ficar a chuva e a temperatura no Brasil nos próximos meses?
Os modelos climáticos europeus indicam que a nossa primavera deve ter temperaturas acima da média em todo o Brasil Central. Ondas de calor podem ser possíveis, porém não devem ser tão abrangentes ou extremas como tivemos no mês de setembro.
Em relação à chuva, a previsão é de ela seja um pouco acima da média apenas no leste da Região Sudeste, e sobre o noroeste da Amazônia. Nas demais áreas do país, a expectativa é de mais três meses com chuvas abaixo da média.
A condição dos oceanos no próximo trimestre
Quando se fala em previsão de clima, os oceanos desempenham um papel fundamental. As anomalias de temperatura nas bacias oceânicas tendem a ser sempre o principal ingrediente das condições climáticas nos próximos meses.
A previsão da temperatura da superfície do mar para os próximos três meses segue indicando um predomínio de anomalias quentes em praticamente todo o planeta. No Pacífico, a La Niña se estabelece entre outubro e novembro, porém como já comentamos, será um evento fraco e não deve ter grande atuação sobre o clima da primavera no nosso país.
No Atlântico Norte, as temperaturas mais elevadas devem favorecer o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) mais ao norte de sua posição climatológica. Embora nesta época do ano a ZCIT não atue diretamente no Brasil, sua posição anômala pode significar uma desintensificação dos ventos que sopram em direção à região Norte do Brasil e alimentam os jatos de baixos níveis, deixando as chuvas mais irregulares e os volumes mensais mais baixos sobre o Brasil Central e o sul do país.
Atlântico Sul traz mais chuva ao Sudeste
Com as grandes oscilações de escala global relevantes durante a primavera (La Niña e Dipolo do Índico) em estado neutro ou muito fraco, a condição da temperatura do Oceano Atlântico Sul tende a ganhar mais importância na determinação das chuvas sobre o Brasil.
Atualmente, estamos passando por uma fase negativa da oscilação do Dipolo do Atlântico. Ou seja, a região do Atlântico Sul próxima à costa do Uruguai e Argentina está mais quente do que a região mais a nordeste, próxima à costa da África. Quando isso acontece, em um período de neutralidade do El Niño, o padrão sobre o Brasil é de mais chuvas sobre o leste do Sudeste e menos chuvas sobre o Nordeste. Isto é o que os estudos científicos apresentam (figura acima) e é exatamente o padrão que os modelos estão indicando.
A equipe Meteored|Tempo.com seguirá acompanhando a evolução do clima, especialmente as condições da La Niña e das temperaturas do Atlântico Sul. Fiquem ligados nas atualizações.