Projeção de La Niña ainda este ano deixa a agropecuária em alerta no Sul do Brasil. Fenômemo pode gerar seca extrema!
O retorno do fenômeno La Niña está projetado para o segundo semestre de 2024 segundo relatório do NOAA, o que deixa a agropecuária em alerta no Sul do Brasil.
Que o fenômeno El Niño gerou fortes impactos negativos no agronegócio da região Sul do Brasil não é nenhuma novidade. O excesso de chuva provocou inundações que alastraram lavouras por inteiro, gerou atrasos no plantio da safra verão 22/23 e também a morte de muitas culturas. O aumento expressivo das chuvas, apesar dos fortes e intensos estragos e prejuízos, foi favorável para elevar o nível dos rios e reservatórios, e também para a manutenção hídrica nas áreas de pastagens.
O El Niño segue instalado no Pacífico Equatorial mostrando anomalias de TSM acima de 0,5°C, porém, o fenômeno já apresenta sinais de enfraquecimento com relação aos meses anteriores. Na porção leste (Niño 1+2) a temperatura atual é de +0,8°C, enquanto que na porção central (Niño 3.4) a temperatura está em +1,7°C. Com relação ao trimestre mais quente de atuação do El Niño, o fenômeno chegou a uma anomalia de TSM de 1,9°C entre outubro, novembro e dezembro.
Com a projeção de mudanças no padrão climático relacionando as condições oceano-atmosfera, existem também cenários projetados com relação ao futuro do agronegócio e da agropecuária no Sul do Brasil. Ao contrário do que o El Niño gera na região, um La Niña aumenta o risco de seca e frio intenso. Porém, como a transição deve ocorrer já no final do inverno, pecuaristas devem se preocupar mais com um frio tardio e um longo período de estiagem, em que a chuva da primavera de 2024 pode falhar.
Nova projeção de retorno do La Niña
Este cenário de retorno do La Niña durante o segundo semestre de 2024 despertou o interesse do analista de mercado da Scot Consultoria, Pedro Gonçalves, que ressalta a preocupação para o final do ano não só na região Sul do Brasil como também na Argentina. Inclusive, o mais recente La Niña ocorrido nos anos de 2020 a 2023, resultou em quebras de safra e prejuízos na agropecuária por conta da falta de disponibilidade hídrica.
Segundo as projeções do NOAA, é possível que as águas superficiais do Pacífico Equatorial entrem em período de transição na temperatura, saindo do El Niño para a neutralidade entre os meses de março, abril e maio, com chances de 47% disso acontecer. A tendência é de que a neutralidade se instale com 73% de chance no trimestre abril, maio e junho, ou seja, final do outono e começo do inverno de 2024. A partir disso, a chance de instalação de um novo La Niña ainda este ano aumenta de forma gradual.
O que chama a atenção é que o La Niña deve retornar mais no final do ano, um período que vai marcar o início da safra 2024/25, o que acende o alerta de novo para possíveis quebras e diminuição de produtividade. Outro ponto é a agropecuária que pode ser fortemente influenciada pelas águas mais frias do Oceano Pacífico.
O El Niño já chegou no ano passado sem muitas condições de ser duradouro, até variou bastante nas projeções semanais, em que muitas apostavam para um super aquecimento, outras já mostravam variações climáticas ao redor de todo o globo, como por exemplo, o super aquecimento de outros oceanos ao mesmo tempo. Tudo isso gerou muitas incertezas e irregularidades na modelagem climática.
Aliás, em dezembro de 2023, a Confederação da Agricultura e Pecuária chegou a comentar sobre a projeção de um La Niña para o final de 2024, em que na ocasião, Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA, comentou que as mudanças climáticas e aquecimento global não estavam mais permitindo períodos de neutralidade. Um exemplo disso é essa transição rápida entre um período de resfriamento entre 2020 e 2023, logo em seguida em El Niño com seu aquecimento,e agora a projeção de retorno rápido para a fase fria do ENOS.
Como o Sul pode ser afetado?
Ainda é cedo e incerto dizer como de fato a região Sul do Brasil será afetada por um possível novo La Niña em 2024, afinal, cada fenômeno chega com intensidades diferentes, em épocas diferentes, e tudo isso tem reflexos no resultado. É fato que alterações climáticas em escala global podem afetar a distribuição das chuvas e o comportamento das temperaturas, mas como isso vai gerar impactos é algo bastante complexo.
Existe um “cenário padrão” em anos de La Niña, em que a chuva se torna mais escassa sobre a região Sul e o frio se torna mais presente. Quando o fenômeno atua durante os meses mais frios do ano, massas de ar polar chegam com mais facilidade e mais durabilidade, o que aumentam os riscos para fortes e abrangentes geadas.
Fenômenos como geada são capazes de queimar pastos por completo, o que compromete a alimentação natural do gado, seja de corte ou leiteiro, e isso obrigada o pecuarista a entrar com maior peso na alimentação com milho, porém, se as lavouras de milho também foram comprometidas pela falta de chuva gerada pelo La Niña, a quantidade e qualidade de alimento para o gado é reduzida.
Em 2020, quando o La Niña gerou uma seca intensa e prolongada no Rio Grande do Sul, houve queda de 55% na produção de leite em Bagé. A qualidade do leite fica comprometida e para tentar amenizar a situação, os pecuaristas investiram em grande quantidade de suplementação alimentar, mas isso acarretou na elevação dos custos de criação. Tudo isso, pode se repetir no final de 2024 se as projeções assim se mantiverem.
Referência da notícia:
Exame - Projeção de La Niña para segundo semestre acende alerta à agropecuária do Sul